Por vezes pode ser confuso conseguirmos processar todas as informações que vamos ouvindo sobre nutrição e alimentação. Algumas parecem contraditórias ou difíceis de perceber e este pode ser o caso do tema de hoje: o consumo de pescado e metilmercúrio!
Hoje falamos sobre: mercúrio e pescado.
Sempre ouvimos dizer que devemos incluir o peixe com regularidade na nossa alimentação por ser um alimento nutricionalmente muito interessante e agora ouvimos recomendações para reduzir as quantidades que ingerimos.
Surgem inúmeras perguntas:
Afinal, posso ou não comer peixe? Posso comer peixe quantas vezes por semana? As mulheres grávidas podem comer peixe? Posso dar peixe ao meu filho?
Começando pelo início, o peixe continua a ser um alimento nutricionalmente muito interessante! O pescado é rico em proteínas de alto valor biológico, é uma importante fonte de ómega-3 e de vitaminas e minerais como: vitaminas A, D e B12, potássio, fósforo, iodo e selénio.
Assim, o peixe continua a ser um alimento a privilegiar na nossa alimentação!
No entanto, o consumo excessivo de pescado pode ser uma preocupação devido à presença de contaminantes, nomeadamente metilmercúrio.
O que é o mercúrio e que risco representa para a saúde?
O mercúrio é um contaminante ambiental presente sobretudo nos produtos da pesca. O mercúrio encontra-se sob diferentes formas no meio ambiente e apresenta diferentes níveis de toxicidade.
Na água, o mercúrio inorgânico é convertido pela ação microbiana na forma orgânica mais tóxica – o metilmercúrio – tendo a capacidade de se acumular na cadeia alimentar aquática.
A exposição a doses elevadas de metilmercúrio pode resultar em diversos efeitos adversos:
- no desenvolvimento neurológico do feto e crianças: atraso mental, paralisia cerebral, surdez, cegueira e disartria.
- como danos sensoriais e motores no adulto.
- no sistema cardiovascular.
O consumo de peixe e marisco é a principal fonte de exposição ao metilmercúrio.
Colocando na balança, os benefícios compensam os riscos? Qual ganha?
Ganha o equilíbrio!
Por todos os benefícios associados ao consumo de pescado e marisco que referimos anteriormente, é indiscutível a necessidade de continuarmos a manter o peixe na nossa dieta.
No entanto, não podemos ignorar os riscos associados ao consumo de pescado e marisco contaminado com metilmercúrio, principalmente em populações específicas como:
- quem consome grande quantidade de peixe
- mulheres grávidas e a amamentar
- bebés e crianças
Nota: o metilmercúrio é capaz de atravessar a barreira placentária e hematoencefálica, prejudicando o crescimento e desenvolvimento fetal. Na lactação os bebés podem continuar a estar expostas ao metilmercúrio presente no organismo da mãe.
Então, como devem os grupos de risco proceder?
1- Evitar comer os peixes com elevado teor de mercúrio
A melhor maneira de reduzir a exposição ao mercúrio dos peixes é comer principalmente peixes de pequeno porte e de baixo nível trófico, que naturalmente contêm menos mercúrio.
As espécies predadoras, peixes de maiores dimensões e com maior tempo de vida têm maiores teores, pelo que devem ser evitados.
2- Comer os peixes com teor de mercúrio baixo e médio 3 a 4 vezes por semana
O consumo de peixe em quantidade superior poderá apresentar riscos devido à presença de mercúrio.
A dose adequada de peixe por semana é de 3 a 4 porções.
Concluindo, devido aos efeitos benéficos do consumo de peixe deve-se manter um consumo elevado de pescado, evitando as espécies com maior teor de mercúrio. Desta forma, minimizamos a exposição a contaminantes tóxicos e potenciamos os efeitos benéficos dos nutrientes. Fica a ressalva de que dever-se-à procurar não realizar todas as restantes refeições da semana com base em carne. Ovos e fontes proteicas vegetais também deverão ser incluídas na rotina alimentar.
Como referimos sempre, variedade e equilíbrio são as chave para uma alimentação mais saudável e tranquila!
Referências Bibliográficas
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